quarta-feira, 17 de março de 2010

Comportamento humano: Natureza vs. Educação

Afinal de contas, o que nos move? Sim, as pernas… os carros e as restantes formas de transporte deslocam-nos de um lado para o outro. Servem para que possamos alcançar objectivos. Mas, como surgem esses objectivos? O que está por trás das nossas atitudes e comportamentos? E o que pensamos? Por que pensamos? Por que temos determinadas crenças? O que nos influencia afinal?

Ora, se a humanidade está dividida em duas eras (antes e depois de Cristo) significa que há mais de 2010 anos que este tema é debatido e estudado. As conclusões são ambíguas, pelo simples facto de grande parte dos autores quererem ter razão, fechando a sua mente às outras hipóteses, também elas válidas. É importante que haja rigor no que fazemos, mas a rigidez de pensamentos fecha portas e janelas a aspectos muito importantes para todos.

Bem, uma breve análise do título supracitado e apresentado na comemoração do The Zeitgeist Movimento (13 de Março) leva-nos a uma das mais velhas perguntas da humanidade que tem influenciado filósofos, cientistas, psicólogos, médicos, artistas… um sem fim de pessoas: Quem sou eu?


Somos instinto ou somos razão? Somos hereditariedade ou educação? Nascemos pré-destinados a ser como somos ou gerimos o nosso presente e o nosso futuro?

Perguntas nada fáceis… Vamos tentar simplicar.

Segundo dicionário on line a genética é uma ciência biológica que tem por objecto o estudo dos fenómenos e das leis da transmissão hereditária (considerando os genes) dos caracteres e a variação destes. Sabemos que genéticamente podemos herdar caracteres físicos e biológicos, tais como tipo sanguíneo, cor dos olhos, estrutura física, doenças. Mas também herdamos tendências. Sejam células pré-dispostas a determinadas doenças, ou a um funcionamento hormonal menos bom. Isto são tendências que podem ou não se desenvolverem consoante os nossos comportamentos.

Por exemplo, um dos nossos pais sofre de bronquite asmática, essa é uma doença genética, passando entre gerações. No entanto, pode ou não ser desenvolvida consoante os hábitos alimentares, comportamentos adequados à manutenção de uma boa saúde física.

Assim, apercebemo-nos de que os nossos actos influenciam o aspecto genético. Talvez seja por isso que Matt Ridley, autor do livro O Que Nos Faz Humanos, num artigo para a revista New Scientist, afirma: “Os genes não restringem a liberdade humana – eles a possibilitam”. Deixando nas nossas mãos a capacidade de mudança.

Um outro aspecto ligado à genética tem a ver com o que é transmitido desde há muitas gerações, desde o Homem Primitivo, ou seja, o instinto.

O instinto está intimamente ligado à nossa capacidade de luta ou fuga perante uma ameaça. O Homem Primitivo, como acontece com os animais, vivia constantemente ameaçado. Por um lado as ameaças exteriores, por outro a questão da sobrevivência. De uma forma geral, tudo o que se conquistava era para a sua sobrevivência ou a sobrevivência dos seus.

Como se sabe, hoje em dia, a carne está à venda em talhos e supermercados, a nossa espécie apenas é ameaçada por si própria através do mau uso que faz das recursos que a terra fornece. Então, temos medo de quê? Qual é o motivo que faz com que os homens ainda lutem por pedaços de terra? Ou ouro? Ou petróleo? Ou prejudiquem os outros para progredir a nível profissional?

Sabemos que uma das qualidades do Homem é a sua capacidade de adaptação a ambientes adversos… Se fomos capazes de nos erguermos, de moldarmos as nossas mãos de rudes para delicadas como hoje, o instinto de sobrevivência já não é justificavél de forma tão rígida e muito menos óbvia.

Hoje sabemos observar e sentir o que nos rodeia, precisamente porque temos a capacidade de desligar o nosso mecanismo de defesa, ou luta ou fuga, e usufruir de momentos de paz, tal como demonstra a imagem ao lado.

Mas nem todos o conseguimos fazer da mesma forma, é verdade. Entramos aqui naquilo ao que podemos denominar de personalidade.

A nossa personalidade é o que nos distingue como indivíduos. Tem a ver com a integração de diversos factores, ou, características essenciais (inteligência, carácter, temperamento, constituição) e as suas modalidades próprias de comportamento.

Então, o que molda a nossa personalidade?

O filósofo inglês John Locke (séc. XVII) formulou a metáfora da tábula rasa: somos uma espécie de folha em branco que é preenchida no decorrer da vida. Este princípio foi essencial para a criação de pilares da política moderna, como a Declaração dos Direitos Universais do Homem, de 1776, ou o socialismo.

A partir desta premissa surgiram uma série de teorias sobre o que influenciava a personalidade do ser humano. Vejamos algumas:

Influência dos pais: Desde os primeiros estudos de Sigmund Freud, e até antes deles, os pais são tidos como os agentes mais importantes na criação de uma pessoa. Freud foi, ao lado de Darwin, um dos grandes pensadores do século XIX a abalar a idéia de Deus, mostrando que as noções de pecado e culpa são transmitidas pelos pais e podem ser a causa de vários dos nossos problemas. Estudos actuais mostram que, conforme interage com os adultos, a criança é moldada ao mundo em que nasceu. E os “outros” mais importantes dos nossos primeiros anos são os pais, servindo de referência de traços aos quais reagimos (imitando ou não).

Influência dos amigos: Em 1998, a psicóloga americana Judith Rich Harris afirma que as relações horizontais dos 6 aos 16 anos são o grande definidor da personalidade adulta. Para ela, ao se identificar com determinada pessoa, a criança tende a agir conforme as regras internas daquelas pessoas, tentando encontrar um papel que lhe renda uma boa posição entre os membros.

Influência da educação: o psicólogo John Watson, famoso no início do século XX, chegou a dizer que conseguiria fazer de qualquer criança um médico ou artista de sucesso se pudesse aplicar na “cobaia” um sistema contínuo de estímulos e respostas. Para o behaviorismo, personalidade bem formada é resultado de uma educação de recompensas e punições.
Nenhuma destas teorias está certa ou errada. Os nossos pais são pessoas fundamentais na nossa vida, a forma como eles e os nossos professores nos educaram, marcaram, com certeza, um pouco do que somos. Os nossos amigos são fantásticos! Ou foram fantásticos… Ou serão fantásticos… Mas, e a religião, ou ausência dela, até que ponto nos marcou? E a nossa cultura? E se nascessemos num meio sócio-económico diferente? Como seria? E se tudo e todos à nossa volta desaparecessem, como seríamos?

Aqui impõe-se repetir a questão: Quem sou eu?

Podemos afirmar que se tudo desaparecesse nós estaríamos ainda aqui. Obviamente, seríamos diferentes, completamente diferentes. Mas existiriamos! Pelo simples facto de sermos indivíduos, munidos das capacidades de pensar, sentir e agir.

Independentemente da forma ou de quem nos possa moldar, a forma como interpretamos os factos é a grande variância e o que nos leva a ter determinados comportamentos.

Vejamos este vídeo:


http://www.youtube.com/watch?v=gbkM_3teyQs

“O homem tem tantos eus quantos são os indivíduos que o reconhecem”, disse em 1890 o psicólogo William James, um dos primeiros a estudar a personalidade. Se somos influenciados por quem nos rodeia temos também comportamentos diferentes consoante os momentos e as pessoas com quem estamos.

No vídeo vimos como os comportamentos de uns moldam os comportamentos dos outros. Neste caso, pais influenciam os filhos de forma negativa. Mas também os nossos vizinhos, a pessoa que nos atente no supermercado, ou na padaria, ou os nossos ídolos nos influenciam de forma mais ou menos positiva, conforme seja a nossa interpretação dos acontecimentos.
Seres humanos não são bons ou ruins: são o resultado da experiência de vida que os influenciam e estão sempre mudando, sempre em movimento. A “qualidade” de um ser humano está diretamente relacionada a como foi criado e aos sistemas de crença aos quais ele foi condicionado.
http://www.thezeitgeistmovement.com/joomla/index.php?Itemid=368

E as nossas crenças como são? Lógicas, suportadas empiricamente e permitem a satisfação das necessidades e objectivos mais básicos dos indivíduos, ou irracionais? Vejamos algumas crenças irracionais enumeradas por Óscar Gonçalves (2000):

É absolutamente necessário para um adulto ser amado por todos e em relação a tudo que faz;
Certos actos são terríveis e cruéis e que as pessoas que os cometem deverão ser severamente punidas;
É horrível quando as coisas não acontecem tal e qual como desejaríamos;
A miséria humana é imposta ao próprio por pessoas, acontecimentos e factores externos;
Se uma coisa é perigosa ou terrível o indivíduo deverá preocupar-se terrivelmente com isso;
É mais fácil evitar do que enfrentar dificuldades de vida e responsabilidades pessoais;
O indivíduo necessita confiar nalguma coisa que seja forte e superior a si próprio;
O indivíduo deverá ser completamente competente, inteligente e bem sucedido em todos os aspectos possíveis;
Se um acontecimento passado nos afectou profundamente ele deverá continuar a afectar-nos indefinidamente;
O indivíduo deverá ter um controlo certo e perfeito sobre todas as coisas e acontecimentos;
A felicidade humana pode ser conseguida através da inércia e da inacção;
O indivíduo não possui controlo sobre as suas emoções e não pode evitar sentir-se desse modo.
Talvez nos identifiquemos com algumas destas crenças. Qual a sua origem? Que emoções nos fazem sentir? Quando surgem? O que posso fazer para ultrapassá-las de forma sadia?
Torna-se necessário reflectir sobre elas, esmiuçá-las e perceber porque estão lá. Depois, substituí-las por crenças racionais e que nos proporcionem bem estar e segurança. Se for necessário pede-se ajuda a um proficional na área da psicologia.

Assim, torna-se necessário:
-Focar a atenção nas nossas forças, em vez das fraquezas;
-Construir e solidificar o melhor que a vida oferece, em vez de reparar constantemente o pior; e
-Preocupar em promover em nós a forma mais proveitosa de viver a vida.


Estas são as bases da Psicologia Positiva, que pretente optimizar os recursos que temos dentro de nós mesmos para ultrapassar de forma consciente e positiva os momentos menos bons que todos passamos na vida.

Então, se “a genética não é um destino, não determina o que você vai ser. Ela oferece predisposições. Todos estão sujeitos a influências ambientais que podem, sim, mudar a expressão dos genes e fazer com que eles simplesmente não se manifestem”, como diz André Ramos, director do Laboratório de Genética do Comportamento da Universidade Federal de Santa Catarina, a mudança do nosso eu passa a ser possível através de uma mudança cognitiva.

Podemos, então, passar a ter atitudes e, consequentemente, comportamentos e emoções mais positivas.

As emoções positivas podem ser consideradas como factores de protecção e construção de recursos pessoais, desde os recursos físicos e intelectuais, até aos recursos sociais. As pessoas que sentem regularmente emoções positivas são, de alguma forma, erguidas numa espiral ascendente de contínuo crescimento e realização. Elas tornam-se mais úteis aos outros e podem transformar as comunidades em organizações sociais mais coesas e harmoniosas, e de moral mais elevado.
Mais uma vez estejamos atentos ao seguinte vídeo.

http://www.youtube.com/watch?v=FAe_bZGqU1g

Emocionante. Como uma atitute simples da parte de uma criança gerou tão grande mudança na forma como os outros viam o acontecimento e acabou por gerar um comportamento positivo em grande escala e todos sairam a ganhar.

Esta é a nossa capacidade de agir e interagir. O ser humano está ligado intimamente com tudo o que o rodeia. Podemos não mover montanhas, mas movemos troncos, movemos as nossas pernas, deslocamo-nos e isso torna-nos grandiosos.

O nosso comportamento é influenciado das mais diferentes formas, mas quando temos consciência de tudo o que referimos concluímos que ele é apenas fruto daquilo que nós quisermos.

E o que será que nós queremos?







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