terça-feira, 15 de junho de 2010

Stress Infantil: factores internos


No post Semana da criança: stress infantil falamos sobre o stress infantil, possíveis causas e sintomas. Hoje falaremos sobre as fontes internas de stress.

O stress pode ser criado pela própria criança, de acordo com sua aprendizagem social, seus pensamentos, os tipos de personalidade e suas atitudes.

Nesse sentido, as fontes internas de stress têm início na infância, pois, a família, a escola, a comunidade e demais instituições influenciam de forma significativa a formação e estruturação do temperamento da criança, levando-a a adquirir comportamentos que podem desencadear um stress intenso. Entre esses comportamentos destacamos:

a) – Timidez: A criança tímida tende a isolar-se, fugir ou evitar certas situações cotidianas, como contacto com os colegas, festas e apresentações de trabalhos, tornando-se mais dependente dos familiares e, consequentemente, mais retraída. Ao evitar contacto com seu meio ambiente, isola-se, demonstrando desinteresse e apatia, criando, com frequência, um mundo só seu, cheio de fantasias e sentimentos de inferioridade.

Desta forma, empecilhos à socialização da criança, como pais superprotetores ou vida social restrita, fazem com que a criança torne-se dependente e insegura, afastando-se do convívio dos amigos. Além disso, familiares e professores podem reforçar a timidez infantil através do cultivo de um “complexo de inferioridade”, na medida em que afirmam que a “criança é burra”, que “não sabe fazer as coisas”, “que não é capaz de”. Nesse caso, ela passa a não mais acreditar na sua capacidade, cresce tímida e muito insegura, sendo, então, considerada uma “criança inadaptada”. Esses comportamentos são mais constantes nos anos escolares devido à multiplicidade de contactos sociais e à convivência com outras crianças de hábitos diferentes dos dela. Essas situações podem, portanto, desencadear crises de stress.

b) – Ansiedade: A ansiedade ora pode ser o factor desencadeante do stress, ora pode ser desencadeada por ele, quando a criança já se encontra stressada. Caracteriza-se por uma inquietação acompanhada de uma sensação de perigo iminente, manifestando-se por agitação, irritabilidade excessiva, intranquilidade e por um medo de que algo ruim aconteça ameaçando a própria segurança.

De acordo com a pesquisadora Biaggio, “como quase tudo no ser humano, as crianças desenvolvem ansiedade, em parte porque sua constituição genética pode predispô-las a isso, e em parte porque o ambiente em que foram criadas propiciou a aprendizagem de ansiedade” (1999, p.54).

Pode-se salientar que existem várias situações que desencadeiam ansiedade na infância, relacionando-se uma delas ao “sentimento de desamparo”. Este sentimento apresenta-se quando a criança se sente desprotegida e precisa enfrentar ou tolerar uma situação para a qual não se encontra apta, como, por exemplo, submeter-se às provas do colégio, falar com pessoas adultas desconhecidas, iniciar um novo ano escolar ou mudar de escola, entre outros. A criança pode apresentar quadros de angústia e sintomas como vómitos, dores de cabeça, diarréia, falta de ar, tristeza excessiva e inibição da manifestação das emoções.

Outra fonte de ansiedade está relacionada com a repressão dos sentimentos de hostilidade e agressividade para com os pais, professores, entre outros, levando a criança a experimentar uma sensação de angústia por não saber lidar com a própria raiva.

Por outro lado, um grau mínimo de ansiedade pode servir a propósitos construtivos, actuando como estimulador da criatividade e de soluções de problemas. Dessa maneira, a ausência de ansiedade pode, por exemplo, deixar a criança apática e desinteressada pelos estudos. Já um grau elevado pode conduzir o aluno à dificuldade de concentração, à ocorrência de distracções e a erros nas tarefas.

c)– Castigos Divinos: Na procura de comportamentos adequados e maneiras de impor limites aos filhos, os pais apelam para Deus na tentativa de amedrontá-los, a fim de conseguir controlar suas acções. No entanto, a resposta verificada nos dias actuais é o crescente medo das crianças de serem punidas por Deus, tornando tal iniciativa uma significativa fonte de stress.

d)- Formação das crenças irracionais: de acordo com Alcino (1999) as crenças são “todo princípio orientador, convicção ou fé que dão significado e direcção à nossa vida”(p.36). O autor aponta ainda que as crenças irracionais são uma maneira distorcida e disfuncional de julgar as situações e estão ligadas a uma tendência particular de julgar negativamente a si mesmo, o mundo e as pessoas. Essas crenças são limitadoras do desenvolvimento humano e geram, normalmente, frustrações, ansiedade e stress. Tais crenças constroem-se a partir do meio familiar, escolar, religioso, bem como da cultura em que a criança está inserida, e podem ser explicadas por se basearem no desejo de agradar a todos, principalmente aos pais; no medo de insucesso em suas actividades; nas crenças religiosas que envolvam punição divina; na autodúvida quanto à inteligência, entre outros.

Na Escala de Stress Infantil – instrumento de Avaliação dos Níveis de Stress – as frases que se associam às fontes internas são: “fico preocupado com coisas ruins que podem acontecer”, “eu me sinto triste”, “penso que sou feio, ruim, que não consigo aprender as coisas”, “sinto que tenho pouca energia para fazer as coisas”, entre outras.

É aconselhável a observação dos pais e dos professores no desenvolvimento das crianças e nos sintomas que possam vir a aparecer. Perceber como elas interpretam e reagem às situações que lhes acontecem é fundamental para conseguirmos ajudá-las. Criar um ambiente favorável ao diálogo e à expressão das emoções. As histórias e os contos são óptimoss recurso para conhecer a maneira de pensar infantil. Os pais superprotetores devem controlar seus impulsos de “fazer tudo pela criança” para que ela consiga maior autonomia e confiança em si mesma. A práctica do desporto, da dança, as expressões plásticas e a risoterapia são muito úteis para as crianças tímidas pois facilitam o contacto social e a expressão dos sentimentos. Os pais podem orientar as crianças ansiosas para actividades lúdicas e para a práctica do relaxamento a fim de minimizar este estado.

O acompanhamento psicólogico e multiprofissional é fundamental para que a criança reconquiste o equilíbrio. O psicólogo, através dos instrumentos de avaliação e da análise de cada caso, realiza uma proposta de acompanhamento adequada a cada criança. A psicoterapia, baseada em actividades lúdicas e nas várias linguagens da arte, propõe à criança e ao seus familiares um maior conhecimento de si e das relações que estabelecem. Nesse sentido, reestruturam pensamentos, identificam emoções e adquirem ou desenvolvem estratégias mais saudáveis para lidarem com as situações da vida.

Referências:

ALCINO, A. B. (1999) Criando Stress com o Pensamento. In.: LIPP, M. (org.) O Stress está dentro de você. São Paulo: Contexto.

BIAGGIO, A.M. (1988) Psicologia do Desenvolvimento. Petrópolis.

LIPP, M.E.N e LUCARELLI, M. D.M. (1998) Escala de Stress Infantil. São Paulo: Casa do Psicólogo.

Sem comentários:

Enviar um comentário