domingo, 23 de maio de 2010

Dr. Geraldo Oliveira – Médico Psiquiatra


Dr. Geraldo Oliveira, Psiquiatra com vasta experiência profissional em diversas casas de saúde mental e clínicas psiquiatricas é o convidado para os Saberes em Conversa desta semana. Vamos usufruir da sua experiência?

1- Recentemente estudos indicaram que Portugal é um dos países da Europa com maior número de pessoas em tratamento de saúde mental. Por que índices tão altos?

Eu penso que para além das patologias clássicas da psiquiatria (esquizofrenias, doenças maníaco-depressivas,hoje bipolares, demências, alcoolismo e neuroses), outros desequilíbrios emocionais surgem com a evolução do mundo contemporáneo e da sua solicitação: é tudo muito rápido e mediatizado. É tudo pra ontem! Daí que quem não tem boa estrutura psicológica vai abaixo. É o fenomeno da adicção de drogas, distúrbios alimentares (bulimia, anorexia), depressões (distúrbios emocionais) e, obviamente, com o aumento da esperança de vida, as demências devido a degeneração do Sistema Nervoso Central. Isto é um fenómeno de todos os paises ocidentais desenvolvidos ou em desenvolvimento e não só um fenómeno de Portugal, ok?

2- O Sistema Nacional de Saúde permite que os médicos de família prescrevam antidepressivos e calmantes quase que indiscriminadamente. O Dr. Geraldo acha que isto é suficiente para a melhoria dos estados depressivos, ansiosos ou outros estados psicopatológicos e a conquista do equilíbrio e bem-estar?

É mais fácil dar calmantes e anti-depressivos (que às vezes também são importantes) e mais rápido do que conversar com as pessoas e aliviar-lhes a sua angústia existencial. Isto nem precisa ser um trabalho diferenciado do psiquiatra, ou psicólogo clínico. É ter tempo para as pessoas. Mas os médicos de família não tem tempo pra isto. Daí o uso mais indiscriminado destes medicamentos. Mas, olhem, os Serviços de Psiquiatria já vão no mesmo caminho, pelo excesso de doentes. Já não há tempo pra conversas. É incrível, né? É o Sistema que está mau. Acho que o problema é psicoeducacional (educação familiar, social e escolar) e as pessoas deveriam ser mais espitualizadas e ter uma melhor estrutura emocial para enfrentar melhor as situações adversas, e assim poupavam os médicos de famílias, e também cresciam como pessoas. Não sei como fazer isto, as pessoas deveriam se reunir para discutir como fazer isto : psicólogos, terapeutas, pedagogos, pais, enfim pessoas importantes na sociedade.

3- A psiquiatria é ainda vista como a medicina para os loucos. Vamos desmistificar esta questão: em que sentido a psiquiatria pode colaborar para um melhor desenvolvimento pessoal e uma vida emocional mais saudável?

Aqui temos um problema grave. Do meu ponto de vista ético e económico de quem trabalha para o Serviço Nacional de Saúde que exigem cada vez números maiores de consultas em detrimento da qualidade (ou seja é a lei do “despachar”) e quem trabalha no seu consultório privado que tem mais tempo para o seu doente (claro o doente está pagar e, às vezes muito bem) e o profissional vai usar estratégias psicoterapéuticas variadas, visando sempre um melhor bem estar do paciente. Numa perspectiva mais romântica, se se deixasse de lado o problema económico, os psiquiatras, ou terapeutas ligados a saúde mental, poderiam dar mais qualidade de vida aos seus paciente, penso eu.

4- De sua experiência pessoal e profissional o que falta ao homem para ser feliz?

O bem supremo, o soberano bem é a felicidade, é a serenidade, é saber dominar as nossas paixões para verdadeiramente sermos livres. É desenvolver a virtude intelectual (teórica e prática para ser-se sábio) e a virtude de carácter, a bondade, a generosidade, a tolerância, o altruísmo, a solidariedade. É fácil, não é? Isto é base filosófica de toda religião.

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