quarta-feira, 21 de abril de 2010

Drº. Mário Barroco – Dislexia e Perturbações de Comunicação


Mário Barroco, Terapeuta da fala há 5 anos, mestre em Ciências da fala e da audição, com trabalho desenvolvido ao nível de escolas, em Unidades de Ensino Estruturado com apoio de alunos com Perturbações de Comunicação, como o caso de autismo, em Unidades de Multideficiência (com casos de paralisia cerebral, trissomia 21, entre outros), apoio de alunos NEE com vários problemas, bem como ao nivel de clínica de reabilitação (patologias vocais, afasias, disartrias) e gabinete de apoio psicopedagógico.



1-A fala é um dos maiores meios de expressão do ser humano. As dificuldades da fala podem comprometer o bem-estar do indivíduo?

R: Existem diversos meios de comunicação (expressão) utilizados pelo ser humano. Temos a comunicação verbal, como a fala, o canto, o tom de voz, e a comunicação não verbal, onde temos as expressões faciais, o sorriso, os gestos, o olhar, a escrita, a postura, entre outros meios. Comunicar não é só falar, apesar de este ser um dos meios preferenciais de comunicação. Daí, qualquer perturbação ao nível da fala, pode comprometer o bem-estar do indivíduo. Uma criança, ou adolescente, que possua uma perturbação neste nível, pode sentir-se inferiorizada em relação aos seus colegas, pode ter dificuldade na identificação com o grupo de pares e ser aceite pelos mesmos, levando a situações mais graves. Ou o caso de um adulto, com, por exemplo, problemas ao nível da fluência do seu discurso (“gaguez”) que se intimida perante uma entrevista de trabalho, comprometendo o seu bem-estar.

Basta imaginar-nos sem a nossa capacidade de poder transmitir tão facilmente as nossas ideias, opiniões ou sentimentos em determinado momento… comprometeria todo o nosso bem-estar…

2-Nas escolas têm sido identificadas (ou apontadas) várias crianças com dislexia. De uma forma geral, quais as indicações que o Dr. Mário pode fornecer aos pais e professores para realmente identificar uma criança dislexica? Quais os tipos de tratamento ou terapias?

R: Muitos dos alunos, hoje em dia, vêem condicionado todo o seu percurso escolar, derivado a dificuldades manifestadas em várias áreas de aprendizagem influenciadas pelas dificuldades de leitura e escrita que, para além das próprias dificuldades criadas no processo de aprendizagem da leitura e escrita, constituem um dos maiores obstáculos que surge ao longo de toda a escolarização do aluno.

A dislexia é uma perturbação linguística, manifestada na dificuldade de aprendizagem de leitura e escrita com características específicas. Para realizar uma correcta avaliação e diagnóstico da dislexia devem ter-se em conta várias áreas, como o desenvolvimento linguístico, o funcionamento cognitivo, a percepção visual e auditiva, a motricidade e psicomotricidade, o desenvolvimento emocional, entre outros aspectos importantes. Contudo desde o ensino pré-escolar, existem alguns sinais que podem ser alertas para a presença de um quadro de dislexia em determinadas crianças, como falta de atenção, dificuldade em aprender e memorizar rimas e canções, montar puzzles e jogos de encaixes e sequências, dificuldade de coordenação motora, pouco interesse por livros ou confusão ao nível da lateralidade (entre a direita e a esquerda). Posteriormente, após o início da aprendizagem da leitura e escrita, a nível escolar, como sinais de alerta podemos ter a dificuldade em associar os símbolos gráficos com o som correspondente, confusão de fonemas e sílabas, dificuldades na passagem do fonema e sílaba para a palavra, dificuldades de percepção, imitação e memorização auditiva, dificuldades articulatórias e comunicativas, défices de atenção, ocorrência de erros ortográficos (inversões, omissões e trocas), dificuldade na memorização de palavras, dificuldades de interpretação… entre outras características.

No que respeita à intervenção com estas crianças, fundamentalmente, esta baseia-se em fornecer-lhes estratégias e técnicas para conseguirem superar as dificuldades que elas apresentam. Trata-se de um treino de competências, realizando um trabalho sistemático, estruturado e muito específico. Existem alguns métodos de reeducação ao nível do mercado. É necessária uma envolvência por parte de todos os intervenientes (pais, professores, técnicos, psicólogos) de modo a melhorar a auto-estima da criança e as suas competências académicas.

3-O comprometimento da fala seja por causas inatas ou por acontecimentos de vida afectam o individuo no seu relacionamento interpessoal, na sua auto-estima e desenvolvimento pessoal. Que outros tipos de acompanhamento ou terapias aconselha paralelamente à terapia da fala?

R: Dependendo sempre da causa e dos diferentes tipos de caso, a intervenção em cada um deve ser diferenciada. Assim a intervenção, a meu ver, deve ser sempre uma intervenção multi e transdisciplinar. Existem casos em que é necessária a intervenção da psicologia, fisioterapia, terapia da fala, terapia ocupacional ou psicomotricidade juntamente com uma intervenção médica. Como exemplo, e voltando ao caso da disfluência (gaguez), será de todo benéfico um acompanhamento ao nível da terapia da fala, de modo a fornecer estratégias e técnicas para a pessoa ultrapassar algumas das suas dificuldades, mas também será importante um acompanhamento psicológico de modo a melhorar a performance comunicativa dessa pessoa.

Quando falamos de um caso de uma disartria ou afasia (provocado por um Acidente Vascular Cerebral ou um Traumatismo Crâneo-Encefálico) então o processo de reabilitação passará pela intervenção de vários profissionais, entre os quais o terapeuta da fala, o fisioterapeuta, o terapeuta ocupacional, entre outros.

4-De sua experiência pessoal e profissional o que falta ao homem para ser feliz?

R: Saber o que é a felicidade! É um conceito de difícil definição, pois cada homem tem o seu conceito. Mas falta sobretudo muito autoconhecimento, pois como quereremos lidar com o Mundo, se não nos conhecemos a nós? Este autoconhecimento, pedra angular das relações humanas, permite uma comunicação intra-pessoal, capacidade inata e única do ser humano, que é a grande chave para o sucesso, para a felicidade.

Falta também ainda, saber ouvir, saber compreender. Com a azáfama diária, com os problemas surgidos diariamente, torna-se fácil esquecer o importante… torna-se fácil esquecer o dar a mão, o cumprimentar, o dar uma palavra amiga, o olhar, o ajudar a levantar, o dar ânimo, o ouvir, o calar… tantas oportunidades de sermos felizes todos os dias e que não as aproveitamos…

Sermos felizes, depende de nós… vamos tentar?

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